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Corpo Abrigo, exposição inédita de Bel Barcellos

Publicada em: 12/03/2025 15:55 - Cultura

Linha e agulha são suas ferramentas, 

tendo a costura e o bordado como linguagem essencial 

de suas referências femininas e dos seus saberes ancestrais, 

para criar trabalhos impregnados de delicadeza e memórias, 

que contam histórias viscerais

 

 

Corpo abrigo é a individual que a artista brasileira Bel Barcellos [Boston, 1966–] inaugura, no sábado, 15 de março, a partir das 13h, na Galeria do Lago, no Museu da República, Rio de Janeiro, sob curadoria de Isabel Sanson Portella. A mostra marca 30 anos de atividades da artista nas artes visuais e é oferecida pela Equinor, multinacional de energia com atuação no Brasil há mais de 20 anos.

 

Barcellos define como “autoficcional” o conjunto de dez trabalhos inéditos desta exposição, em que Bel desenha com bordado sobre lona ou linho, tendo a figura humana feminina como ponto focal e o universo emocional como trama subjetiva. Pela primeira vez, ela incorpora a cerâmica à sua produção.

 

Os fazeres manuais do desenho, do bordado e da cerâmica convergem no universo criativo de Barcellos, unindo a contemporaneidade a saberes herdados das avós, para revolver memórias afetivas comuns a todos.

 

Bel Barcellos define a abrangência de Corpo abrigo:

“A exposição divaga sobre o nosso corpo, matéria com que nascemos e atravessamos a existência, pontuando questões do nosso complexo universo emocional. Partindo de um ponto de vista feminino, mergulho em experiências pessoais para falar sobre aspectos que são inerentes ao universo feminino, acreditando haver um fluxo que percorre e conecta as mulheres. Construo minhas narrativas utilizando técnicas, como o bordado e a cerâmica, fazeres historicamente relacionados ao universo feminino, expandindo suas possibilidades expressivas e ressignificando suas finalidades.  Faço um elo com minha ancestralidade, revelo a potência na delicadeza do gesto e reafirmo a importância dos trabalhos manuais em seu processo artístico como forma de introspecção e autoconhecimento. O corpo, como abrigo em suas infinitas possibilidades, é instrumento e porta para estados entre o racional e o imaginário, onde a imersão e o ato criativo se tornam libertadores, transformadores e cerne para curas”.

 

A costura sempre esteve presente em sua vida pessoal e no trabalho com figurinos, mas desde o contato com a obra de Arthur Bispo do Rosário [1909 ou 1911–1989], o bordado ganhou mais relevância no processo criativo de Bel Barcellos, embora a artista já bordasse símbolos e escritos em meio a suas pinturas anteriormente. A partir dos anos 2000, o bordado prevalece como elemento compositor da obra como um todo.

 

A nova pesquisa da artista é a cerâmica, que aparece em Corpo abrigo em instalações, com a marca da figuração feminina, ora como suporte para seus bordados, ora levando este material à superfície da tela ou pintando a lona com o barro e o pó da terra.

 

A curadora Isabel Portella diz em seu texto de apresentação:

As obras de Bel Barcellos dizem muito mais do que se possa imaginar. Chegam carregadas do aprendizado e da energia de várias gerações de mulheres e formam um solo fértil de onde brotam as sementes compartilhadas. Elevam, ao surpreendente, o trabalho com as mãos, a delicadeza do bordado e da cerâmica. Pedem silêncio para que se possa mergulhar nesse rio e sabedoria para aceitar a inevitável passagem do tempo. Precisam de entendimento e desvelo para que se perceba que, por dentro, somos todos absolutamente iguais.”   

 

O que ver em Corpo abrigo

Ânima, 2022|24

A primeira obra a ser criada foi Ânima, um políptico de seis telas, com desenho bordado em tons de vermelho sobre lona. A artista descreve este trabalho: “é um mergulho no subjetivo da alma, trazendo imagens e metáforas que relacionam o universo interno ao externo.

 

Do pó da terra, 2025

O trabalho, composto de desenho bordado e barro carimbado na tela junto com pó de cerâmica, traz a figura de uma mulher, em três posições, emergindo do barro, entranhada na natureza, e fortalecida pelos elementos naturais.

 

Manas, 2024

Esta instalação de parede, com 10 mamas de cerâmica em tons diversos de argila, com referência às cores da pele. De cada mama pendem fios de algodão, que se encontram no piso da galeria.  O título remete à sororidade de alimentar os próprios filhos ou os das outras mulheres.

 

Mais um dia, menos um dia, 2025

É uma obra com desenhos bordados sobre lona, de pequena dimensão e em forma de cubo, pendurada por um fio na viga que divide duas salas da galeria. Em cada lado do cubo, uma frase bordada “Mais um dia”, “Menos um dia”, e a imagem de uma mulher agachada em forma fetal, ficam girando no ar, como se marcassem a passagem do tempo.

 

Série O rio abaixo do rio, 2025

A crochês, rendas e bordados herdados de familiares aplicados sobre linho, juntam-se os desenhos bordados da artista, que se representa como uma das mulheres bordadas, ao lado de sua tia e sua irmã. As duas obras desta série falam sobre a transmissão das práticas têxteis através das gerações e lança luz na preciosidade destes trabalhos têxteis, ao ressignificar suas funções.

 

Iabá [orixás femininas em iorubá], 2025

Pensando nas jornadas múltiplas do cotidiano, Barcellos criou/cria uma figura feminina carregando centenas de contas de cerâmica em formatos e cores variadas, feitas manualmente: o peso de que somos capazes de carregar. Aqui, a cerâmica é trazida para dentro da obra, costurada sobre a lona.

 

Devaneio, 2025

É um desenho bordado sobre lona, em que a imagem central é a própria artista, de braços abertos e pés imersos no mar, de onde partem voando outras imagens dela mesma, de cujas mãos partem outras tantas “Bels”. A artista o define como “um mergulho na minha intimidade e no gesto silencioso do trabalho bordado. Quero falar desse estado de devaneio, entre o racional e o imaginário, provocado pelo ato criativo e o trabalho manual”.

 

Oferenda, 2023|24

Esta instalação de chão reúne 25 esculturas de cerâmica representando grávidas, bordadas com fios de algodão cru, que ligam umas às outras e ao teto. “A instalação é uma ode ao universo feminino, ao corpo como abrigo de outra vida, ao fluxo e as conexões que unem as mulheres e que também as une ao sagrado”, explica a artista.     

 

 

Primeiras influências

Bel Barcellos nasceu em Boston, porque seu pai estava cursando o mestrado e o doutorado em Física no Massachussets Institute of Technology [MIT]. Na volta ao Brasil, o pai foi convidado a fundar o departamento de Física na Universidade Federal de Pernambuco. E a família foi morar em Recife, onde Bel passou a infância, até que sua mãe foi fazer o mestrado e o doutorado em piano e composição em Santa Bárbara, Califórnia. Na high school estadunidense, a artista teve suas primeiras aulas de desenho e modelo vivo.

 

Na volta ao Brasil, desta vez para morar no Rio de Janeiro, ela foi estudar desenho com Gianguido Bonfanti no MAM e, mais tarde, no Parque Lage, estudou pintura com Manfredo de Souzanetto e Daniel Senise. Suas pesquisas começaram por pinturas figurativas com tinta acrílica e pigmento sobre lona, depois se ampliaram para desenhos a lápis sobre tecido e sobre papel, bem como monotipias com a técnica de transfer.  A partir de 1996, após conhecer a obra de Arthur Bispo do Rosario, Bel passou a incorporar bordados aos seus trabalhos. No início, as costuras surgiam em forma de símbolos e escritos em meio a pinturas e desenhos, mas a partir dos anos 2000, o bordado passou a ser o meio compositor de sua obra como um todo, figura e fundo.  A partir de então, ela se dedicou inteiramente às artes visuais com bordado, que havia aprendido com as avós.

 

 

Formação acadêmica e exposições

Bel Barcellos passou a infância em Recife e desde 1984 vive e trabalha no Rio de Janeiro. Formou-se em artes cênicas pela UniRio, em 1989 e, no ano seguinte, foi como bolsista da CAPES fazer o mestrado em artes cênicas na Universidade de Hull.  Trabalhou como figurinista em teatro e em TV, Globo e Manchete, no final dos anos 1980. Alternou o trabalho com figurino e as artes plásticas nos primeiros anos, até passar a se dedicar exclusivamente às artes visuais a partir de 1994.

 

Desde então, expõe em galerias comerciais e em instituições públicas, como, no Museu de Belas Artes [1995], na Casa de Cultura Laura Alvim [1996], ambas no Rio de Janeiro; no Centro de Estudos Brasileiros de Maputo, Moçambique [1997], no Museu da República do Rio de Janeiro [1998]. Entre 2005 e 2009, sua individual “De tão alvas, quase almas“ percorreu diversas instituições, como o Centro Cultural Correios no Rio de Janeiro, Museu de Arte Contemporânea de Olinda, SESC Petrópolis e o MUBE, em São Paulo. Em 2010, sua individual “Fios/Hilos” ocupou três salas do Museu MACAY, em Mérida, México, integrando o panorama sobre a Arte Contemporânea do Brasil.

 

Em galerias comerciais, fez individuais na HAP Galeria , Rio de Janeiro, na Galeria Karla Osório; Brasília, e na galeria Gaby Indio da Costa Arte Contemporânea, no Rio de Janeiro, nos anos 2010.

 

Dentre as mostras coletivas de que participou, destacam-se: em 2024, “Uma Casa toda sua”, na Casa Museu Eva Klabin e “Fios, entre poéticas e tramas” na Galeria Gaby Indio da Costa Arte Contemporânea, no Rio de Janeiro; “A medida do olhar”, na Gaby Indio da Costa Arte Contemporânea” “AR”, na OÁ Galeria, em Vitória, 2020; “Mulheres na coleção MAR”, Museu de Arte do Rio, 2019; “De pedras a pássaros: direções e sentidos”, na OÁ Galeria, em Vitória, 2019; “Lacunas Preenchidas”, Galeria da Villa Aymoré, no Rio de Janeiro, “Drawing Lines” na Shüebbe Projects em Düsseldorf, 2009; “Brasilidades”, no Centro Cultural Light, no Rio de Janeiro, em 2000 e “O feminino” no Museu da República, no Rio de Janeiro, em 1997.

 

Bel Barcellos tem trabalhos nos acervos da Ella Fontanals-Cisneros Collection, do Museu de Arte do Rio, do Museu Nacional de Belas Artes, Centro Cultural Correios, da Cia Souza Cruz S/A e de diversas coleções particulares no Brasil e no exterior. A artista é representada pelas galerias Gaby Indio da Costa Arte Contemporânea, no Rio de Janeiro, e OÁ Galeria em Vitória, ES.

 

Teve seu processo criativo registrado na série de documentários “Ateliê Aberto” do Canal Curta em 2022, e no documentário  “Sentidos do Fio”, de Mariana Guimarães, que foi apresentado no Canal Arte 1, em 2024.

 

Sobre a Equinor

 

A Equinor é uma empresa internacional de energia comprometida com a criação de valor a longo prazo em um futuro de baixo carbono. No Brasil, área estratégica internacionalmente para a companhia, o portfólio crescente conta com ativos em óleo e gás (O&Ge energias renováveis. Em O&G, a companhia tem projetos em desenvolvimento, incluindo Raia e Bacalhau, e ativos em produção, como Peregrino e Roncador. Em renováveis, a empresa conta com ativos em energia solar em operação – os complexos solares Apodi e Mendubim, e o complexo híbrido Serra da Babilônia, operado pela Rio Energy, empresa líder em energia renovável onshore no país, adquirida pela Equinor em 2023.

 

 

Serviço

Exposição Corpo abrigo, individual de Bel Barcellos

Galeria do Lago | Museu da República, Rio de Janeiro

Rua do Catete 153. Catete

 

Abertura   Sábado, 15 de março, 13 – 17h

 

Temporada  16 de março a 01 de junho de 2025

Terça a domingo de 9 às 17h

Grátis

Classificação  Livre

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